Mesmo antes de saber o que é Arteterapia, ela já estava presente em minha vida. Casada muito jovem e com dois filhos entrando na adolescência, passei por uma fase bastante conturbada onde me questionava se daria conta de criá-los. Nessa fase comecei a pintar telas, mesmo sem conhecimento técnico para isso, inicialmente comecei pintando com tinta acrílica que secava mais rápido e o resultado final era mais rápido, no entanto se houvesse erros que não fossem percebidos à tempo dificilmente conseguiria concertar, foi então que descobri que com tinta a óleo poderia ser feito de uma forma diferente, que se hoje eu errasse ou se amanhã não gostasse do resultado final, eu teria mais tempo para consertá-lo, contudo apesar de planejado o resultado final seria mais demorado. Olha que interessante, era bem o conflito que que eu estava vivendo naquele momento com os filhos adolescentes, o medo de errar e não ter tempo para consertar, mas e se eu mudasse a forma de agir? E se eu buscasse alternativas mais suaves, lentas e gradativas, talvez eu pudesse ir ajustando essa forma até um resultado final desejado ou próximo ao desejado.
Algum tempo depois passei pela experiência da morte de um irmão, aconteceu de maneira tão brusca que em um primeiro momento fiquei sem chão, mas logo em seguida resolvi ir trabalhar e dar continuidade ao trabalho que ele estava iniciando, me dei pouquíssimo tempo para chorar e viver o meu luto, mergulhei de cabeça no trabalho. Um ano e meio depois, abriu-se um buraco em meu peito, um vazio que eu não fazia ideia de onde ele vinha, uma dor tão intensa que me vi pintando caixinhas de madeira, muitas, muitas caixinhas… Ao observar todas aquelas caixinhas juntas, tive a impressão de estar olhando para muitas miniaturas de caixões, será que inconscientemente esta era a minha tentativa de viver um luto tardio? Deixei que minha alma se expressasse, me permiti chorar, me permiti sentir e me permiti viver o meu luto, mesmo que tardio, foi curador.
Tempos depois a morte de um outro irmão aconteceu. Como assim? o que estava acontecendo?, naquele momento eu não entendia e nem tão pouco aceitava o que tinha acontecido, internamente me sentia injustiçada pela vida, sem chão, como se toda a minha estrutura interna estivesse se rompido e se fragmentado. Então, mergulhada na minha fragmentação e tristeza, uma noite sonhei que plantava muitas plantinhas em vasinhos decorados, no dia seguinte juntei alguns azulejos coloridos e com um martelinho eu os quebrava, era daquela forma que eu me sentia, aos cacos… Depois de todos aqueles azulejos quebrados, resolvi juntar aqueles caquinhos e cola-los em vasinhos, dando forma a algo novo, reconstruir não a mesma coisa, mas algo que a partir de seus fragmentos pudesse se tornar mais belo.
Este era o meu desejo, juntar os meus próprios caquinhos e me reconstruir novamente.
Em 2012 resolvi fazer uma pós-graduação em Psicologia Transpessoal e lá fui apresentada à Arteterapia, foi então que percebi que, mesmo sem conhecer a técnica, o que eu fazia já era Arteterapia, aí que resolvi me especializar e, paralelo à Psicologia Transpessoal, fiz a Formação em Arteterapia.
Hoje, entendo que a minha alma me conduziu até a Arteterapia, e que a Arteterapia me resgatou muitas vezes para que eu reencontrasse a minha essência, o meu propósito de vida, por isso me dedico com tanta paixão pelo que faço, honrando tudo o que a Arteterapia fez por mim através dos atendimentos Arteterapêuticos.
Gratidão!